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sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Ora cá vai mais uma...

Olá Camaradas!

Dando seguimento á recente exploração da minha "veia literária", cá vai mais um "conto" da minha autoria:

"Que os teus desejos se realizem"

"Sete horas, já! Mais de 2 horas para fazer 45 quilómetros.
Os músculos do pescoço e dos ombros ressentem-se já do esforço tenebroso de segurar o volante de um carro que não circula a mais de 2 km/h.
Verde. Arranca. Mais 300 metros. Pára. E a casa, que embora estando perto, está ainda tão longe. Perto em metros, mas longe em minutos. Longe em carinhos, longe em afectos. E a vontade de lá chegar, que aumenta com o passar desses minutos, que ainda são muitos. Mas há mais um carro que entra para essa faixa. Á força. Com toda a força que a sua falta de afectos lhe impõe, condicionados pelos mesmos minutos ditadores. O Sol está quase a pôr-se, banhando de luz alaranjada o ambiente que se torna pesado e sombrío. Ainda mais pesado que a poluição que o sufoca. É uma poluição que paira baixinho. É como um risco de caneta feito na cara, sem querer: cada um pode ver o dos outros, mas não vê o seu. E assim é com a neblina poluidora. Paira pesada sobre os outros. Quanto mais longe, mais pesada. Será castigo por irem mais á frente? Por lhes faltarem menos minutos?
Chegar. Estacionar. Entrar no elevador. Subir.
Enfim, chegada ao refúgio.
Pousar a pasta e os papéis soltos. Arrumar as chaves no sitio do costume. Pôr o telemóvel a carregar para servir de carrasco do acordar do dia seguinte. Tirar os sapatos e com eles descalçar o chefe, os impressos, os carimbos e o livro de reclamações. Esses não pertencem aqui, mas sim lá, do outro lado da barreira de filas e de poluição, na clausura a que chama trabalho.
A televisão enche de sons e cores a sala vazia, tornando-a estranhamente acolhedora e apelativa. Da cozinha vem o cheiro de comida elaborada com amor e cansaço.
O filho corre pelo corredor, abraça o pai.
- Finalmente chegaste - diz, apertando-o ainda com mais força.
- Que saudades, filho!
Palavras, só estas. O resto foram olhares ternurentos e uma carícia paterna suave, no cabelo.
Agora, observam os dois, do silêncio do 5º andar, os que, lá em baixo, ainda correm contra os minutos. São muitos. Manadas de veiculos, que ordeiramente seguem, apenas perturbados, aqui e ali, por uma ovelha tresmalhada, que em forma de ambulância ou carro da polícia, irrompe pelo meio das mesmas.
Mas essa já não é a realidade deles. Pai e filho, estão agora seguros pela altura do 5º andar, que abafa e disfarça os ruidos da manada ordeira que observam.
O jantar está pronto. Um último olhar sobre o horinzonte carregado.
- Então, já decidiste o que queres ser, quando fores grande?- pergunta o pai, na ânsia de entender o que move aquela pequena criatura, que o adora e idolatra.
- Sim! Eterno...
- Porquê? - pergunta, surpreendido pela profundidade da resposta e pela forma sentida com que os pequenos e frágeis lábios a suspiraram a medo.
- Para estar sempre contigo! - esboçando um daqueles sorrisos que, de tão carregados de júbilo, fazem mover o mundo.
Uma lágrima corre pela cara do pai. Sem pressa. Não tem os malditos minutos a pressiona-la. É d'amor paterno. É d'esperança.
Cai a lágrima.
Com ela leva a memória da resposta inocente e convicta, que há muitos anos formulara perante a mesma pergunta do seu próprio pai:
Queria ser livre.
Obviamente, não conseguiu..."



Despeço-me com amizade. Até Breve!

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

VOLTEI!

Olá camaradas! (Juro que já tinha saudades de dizer isto)

Abro aqui oficialmente a "second season" do meu blog! Vai ser em grande...

E pra começar, aproveito já para partilhar um momento de inspiração bastante recente, digam de vossa justiça!!!

Cá vai:

"Quanto dura a eternidade?"

"Nem sei porque morri... Nem como vim aqui parar...
Nunca imaginei que isto fosse assim, tão belo, tão pacífico, tão vasto e só p'ra mim.
Sim, isto é tudo p'ra mim. Não há aqui mais ninguém. Não digo que é belo por ver que é belo. Porque não sei se vejo. Acho que não vejo. Mas sinto. Sinto as tulipas brancas e bejes, sinto o monte coberto de relva verde e fresca que, ligeiramente, desce até ao riacho que sinto ao fundo.É de águas límpidas. Límpidas e frescas. Sinto que são frescas estas águas. Tão frescas que matam a sede que não tenho. Tão frescas que parecem criar-me sede...
Também há árvores. Muitas. E debaixo de cada uma estende-se uma acolhedora sombra, que me convida a disfrutar dela, deitando-me sobre a erva fresca e húmida. Algumas têm frutos. Os melhores frutos que alguma vez vi! Grandes e apetitosos.
Também há sol. Não sei se é O SOL, mas é um sol, disso tenho a certeza. Brilha com uma luz peculiar. É intenso mas suave. Ilumina todas estas maravilhas, de forma ténue. Mas é possivel olha-lo directamente. Não ofusca. Aquece. Não que aqueça o corpo que nem sei se tenho, mas sim o meu eu. Aquece-o da mesma forma que o copo de leite morno preparado pela mãe, aquece o filho frio, quando chega a casa molhado até aos ossos.
Os seus raios parecem pinceladas. Pinceladas de luz, por entre o verde das árvores.
Este sol não se põe. Não sai da mesma posição (que calculo ser a do meio dia, se é que isso interessa aqui...). Nem os passarinhos se cansam. Nem o seu canto cessa. Há um continuo e agradável chilrear. Como ao amanhecer, numa manhã de Primavera. Tal e qual. Mas aqui não sei se é Primavera. Nem sequer sei se há outras estações. Eu vou-lhe chamar Primavera.
Quero ver mais. Sinto que me desloco, mas sem andar. Não tenho corpo... Aposto que não tenho corpo. Mas não me apetece olhar para verificar. Eu sei que requer apenas um pequeno gesto do pescoço, mas parece que não sou capaz de o fazer e mesmo que o seja parece-me que tal gesto me irá deixar exausto. Não interessa.
Desloco-me. Mas é tudo sempre igual. Mais flores, mais árvores, mais erva verde, mais passarinhos e mais riachos. E o mesmo sol. Sempre o mesmo sol. Perfeito demais. Não só o sol, mas tudo. Tão perfeito que começa a assustar-me.
Se calhar nem consigo falar. Mas p'ra quê falar, se estou aqui sozinho?
Sinto-me inquieto. Algo não está bem. Não sei se me sinto bem aqui. Talvez me sentisse melhor se estivesse onde estava antes...
Custa-me tanto lembrar onde estava antes...
E porque me vim embora?
Ah, morri! Sim, sim. Agora lembro-me: era vivo.
O meu corpo ficou lá. Já o vejo. Basta olhar através das nuvens, que estão por baixo da relva verde e fresca. Vejo-me deitado. A mão do meu corpo está ternamente pousada no ombro do meu amor, que dorme ao lado do meu corpo. Ainda não sabe que morri. Eu já sei. Tenho a certeza.
E este lugar deve ser o céu de que tanto ouvi falar e fantasiar, mas nunca quis crer. Ou o inferno. Vai depender dos dias.
Seja como for, vou ficar aqui para a eternidade...
Acho que me vou sentar nesta pedra e espero aqui..."

Despeço-me com amizade. Até breve!

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